Devo ou não mandar meu filho para a escola antes de vaciná-lo contra a Covid? Especialistas explicam

Ministério da Saúde divulgou nesta quarta-feira (5) as regras para a vacinação de crianças de 5 a 11 anos e abriu mão da exigência de receita médica para imunização dessa faixa etária.

Menino recebe dose da vacina da Pfizer contra a Covid-19 em Roma, na Itália, em 15 de dezembro — Foto: Andrew Medichini/AP

Menino recebe dose da vacina da Pfizer contra a Covid-19 em Roma, na Itália, em 15 de dezembro — Foto: Andrew Medichini/AP

Ministério da Saúde informou nesta quarta-feira (5) que a previsão é que as crianças de 5 a 11 anos de idade comecem a ser imunizadas contra a Covid-19 neste mês. Como o ano letivo deve começar nas próximas semanas, surge a dúvida entre pais e responsáveis: afinal, é preciso esperar até que a criança esteja vacinada para mandá-la à escola? Para especialistas, a resposta é não(veja mais abaixo)

O governo divulgou as regras de vacinação desse público e abriu mão da exigência de receita médica para imunização dessa faixa etária.

De acordo com o ministério, a vacinação será feita em ordem decrescente de idade (das crianças mais velhas para as mais novas), com prioridade para quem tem comorbidade ou deficiência permanente.

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Até o fim de janeiro, a estimativa é que 3,7 milhões de doses cheguem ao país. No entanto, segundo o IBGE, o Brasil tem cerca de 20,5 milhões de crianças nessa faixa etária.

A aplicação da vacina da Pfizer para este público está autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 16 de dezembro.

Confira abaixo o que dizem especialistas sobre as seguintes perguntas:

  1. Devo esperar a vacina antes de enviar meu filho para a escola?
  2. É seguro mandar as crianças para a escola?
  3. Quais cuidados devem ser tomados?
  4. Qual a importância da vacinação em crianças?

1. Devo esperar a vacina antes de enviar meu filho para a escola?

Para Marcelo Otsuka, pediatra e infectologista, a resposta é não. “Se não há nenhum quadro respiratório na família, se a criança está clinicamente saudável, se não for uma criança com quadro de câncer ou alguma doença imunossupressora, acredito que ela deva ir à escola, sim”.

Segundo o especialista, que coordena o Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), os prejuízos em deixar os estudantes fora da escola vão além da questão educacional.

“As crianças precisam ir para a escola. Elas estão sendo extremamente prejudicadas por não irem. Grande parte delas não tem o acesso adequado à internet ou sequer tem acesso à internet”, explica.

“Para muitas crianças, a refeição mais importante do dia é a que fazem na escola. E, mais do que isso, os casos de agressão contra a criança aumentaram muito nos últimos meses. Então, é muito ruim falar que ela não deve ir pra escola porque o prejuízo que já teve é irremediável”, completa.

Além disso, na opinião dele, aguardar até que a criança esteja com o esquema vacinal completo – duas doses da vacina e aguardar duas semanas após a aplicação da segunda dose -, pode aumentar ainda mais o abismo educacional que já cresceu nos últimos dois anos.

2. É seguro mandar as crianças para a escola?

Para a pediatra e professora da Faculdade de Medicina da USP Ana Escobar, a escola pode ser um ambiente mais seguro “do que a própria casa das crianças, portanto não há razão para não mandar seus filhos para a escola”.

Ana Escobar: 'O mundo inteiro já sabe que a vacina é segura para crianças'
Ana Escobar: ‘O mundo inteiro já sabe que a vacina é segura para crianças’

“A escola é segura no momento em que professores, funcionários, estão vacinados e seguindo os protocolos de segurança, como uso de máscara, lavagem de mãos, e as escolas estão fazendo isso”, afirmou em entrevista ao programa GloboNews em Ponto na terça-feira (4).

 
“Mesmo que a vacinação esteja demorando para acontecer, a escola é mais importante e o ambiente escolar é seguro.”

A epidemiologista e professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Ethel Maciel, avalia que o ambiente escolar estará mais seguro para o ano letivo de 2022.

“Com a comunidade adolescente e adulta já vacinada, a não ser que os indicadores municipais sejam muito ruins e haja muita contaminação nas escolas, vamos ter um ambiente muito mais seguro do que no ano passado”, analisa.

3. Quais cuidados devem ser tomados?

Otsuka concorda que manter os cuidados contra a doença, principalmente por parte dos adultos, mas também das crianças, é importante para fazer da ida à escola mais segura possível. Manter o distanciamento, revezar os horários de intervalo, estimular que as crianças lavem as mãos e não troquem material escolar são alguns destes cuidados.

“As secretarias de educação já determinaram estes protocolos e várias outras medidas que reduzem a chance da criança contrair a doença, portanto este risco não deve ser usado como desculpa para não mandá-la a escola”, finaliza ele.

4. Qual a importância da vacinação em crianças?

Imunizar crianças da faixa etária entre 5 anos e 11 anos vai colaborar com a redução de formas graves e óbitos pela doença, além de ser capaz de reduzir a transmissão do vírus, diz nota técnica divulgada pela Fiocruz em 28 de dezembro.

 

De acordo com a nota divulgada pela Fiocruz, “embora crianças adoeçam menos por Covid-19 e menos frequentemente desenvolvam formas graves da doença, elas transmitem o vírus na comunidade escolar e também fora dela”.

Além disso, a taxa de mortalidade da doença também é preocupante. Um levantamento recente da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 mostrou que, do início da pandemia no Brasil até 6 de dezembro, 301 crianças de 5 a 11 anos morreram após serem diagnosticadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid. Ou seja, uma morte infantil foi registrada a cada dois dias desde 2020.

Segundo Otsuka, existe no cronograma de vacinas para crianças a imunização contra doenças que são menos letais. “O Programa Nacional de Imunizações (PNI) adota várias vacinas para infecções que não matam tanto quanto coronavírus matou, como a meningite, que é gravíssima, mas mata muito menos”, compara.

Neste panorama, para o especialista é fundamental que as crianças sejam vacinadas neste momento pandêmico, e, se necessário, volte a se vacinar contra a Covid periodicamente.

 

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