Placa de açougue de SC sobre venda de osso é retirada após fiscalização

Procon autuou estabelecimento. Órgão também emitiu uma nota recomendando que empresas, como açougues e mercados, ‘se abstenham de cobrar por ossos bovinos e apenas efetuem as doações’.

placa sobre a venda de ossos de boi em um estabelecimento de Santa Catarina, que gerou polêmica nesta semana, foi retirada pelo comerciante de Florianópolis após orientação da Procuradoria de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). Segundo o diretor do órgão, Tiago Silva, uma visita no local foi feita na terça-feira (5) e, imediatamente, o cartaz foi desafixado do local.

O órgão autuou estabelecimento e solicitou que o dono apresentasse esclarecimentos por escrito sobre o cartaz. O prazo é de dez dias, após o recebimento do documento. Silva classificou como “desumano” cobrar pelo produto que tem substituído a carne no prato de famílias brasileiras, ao lado de ovos e verduras, durante uma crise econômica.

O Procon também emitiu uma nota técnica recomendando que empresas, como açougues e mercados, “se abstenham de cobrar por ossos bovinos e apenas efetuem as doações”. A prática, porém, é permitida pelas legislações nacional e estadual, conforme órgãos e entidades consultadas pelo g1, mas precisa ser fiscalizada.

Também é necessário aos estabelecimentos que comercializam ossos, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), seguir as Boas Práticas de Manipulação de Alimentos nos termos da RDC 216/2004.

A comercialização também está prevista e, consequentemente autorizada, na Resolução 1 do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) do Ministério da Agricultura.

Procon vê irregularidades na venda de ossos bovinos por açougues em Florianópolis

Procon vê irregularidades na venda de ossos bovinos por açougues em Florianópolis

Para o presidente da Associação dos Frigoríficos Independentes de Santa Catarina (Afisc), Miguel Do Valle, a venda do item deve ser incentivada. Segundo ele, a prática é feita há anos e os itens são usados em pratos tradicionais.

A questão, para o presidente, chamou a atenção porque mais pessoas passaram a procurar pelos ossos, já que a carne teve aumento no preço. “A venda de carne com osso, como um retalho, ou só o osso, sempre foi tradicional na venda de açougues”, disse.

Ações do Procon

Na terça-feira (5), o Procon visitou 26 estabelecimentos que vendem carne e não encontrou nenhuma comercialização de ossos bovinos, inclusive o estabelecimento onde foi feito o registro da foto. Já na quarta-feira (6), o órgão de defesa do consumidor do Estado visitou outros 19 locais e também não encontrou comércios vendendo o produto.

“No momento de crise que estamos vivendo é até desumano que esses estabelecimentos estejam cobrando por ossos”, disse Silva.

Para a economista e professora de Economia e Finanças Públicas da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) na Escola Superior de Administração e Gerência (Esag), Ivoneti Ramos, a doação de ossos é “uma praxe histórica”.

Segundo ela, a retirada do alimento vai fragilizar ainda mais a camada de pessoas com menor renda e, consequentemente, mais atingidas pela pandemia.

Ossos e temperos são os produtos que estão no congelador da família de São José — Foto: NSC TV/Reprodução

Ossos e temperos são os produtos que estão no congelador da família de São José — Foto: NSC TV/Reprodução

A família da doceira Angelita Pereira de Oliveira de São José, na Grande Florianópolis, não consome carne bovina há pelo menos dois meses. Segundo ela, a alta do preço do produto tem feito com que eles se alimentem com ossos de boi e de porco que compram em açougues.

No congelador da residência alugada, que ela divide com mais cinco pessoas, há sacolas com temperos e ossos congelados para as refeições.

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Advogado de Direito Cível e do Consumidor, Felinto Deusdedith Ribeiro Júnior, diz que não há irregularidades com a venda do produto, uma vez que o supermercado compra a carne com os ossos e a fraciona para a venda.

“Ele [comerciante] tira o filé mignon, o contrafilé, o coração, o intestino do boi e vende fracionado. Não existe nenhum problema em um mercado vender isso fracionado. Ele [comerciante] compra, ele pode vender. Assim como o pé de galinha e a moela, partes que não são consumidas por todas as pessoas, mas que algumas gostam”, diz o advogado.

Doações

Economista e professora de Economia e Finanças Públicas da Udesc Esag, Ivoneti Ramos afirma que ainda não há nada “formado sobre o assunto” na área da economia em relação à venda para o consumo humano e seus preços. Segundo ela, o que existe é uma praxe de doação histórica que, se retirada, vai fragilizar ainda mais a camada mais atingida pela pandemia.

“Há, também, compradores de ossos para outros usos, mas de forma comercial, que não entra nesta questão que está sendo refletida agora. Pelo espírito solidário, a doação deveria ser mantida. Como temos uma sociedade muito desigual, há quem precise deste tipo de alimento. Às vezes, é tudo o que se tem em casa para a subsistência”, analisa a economista.

Felinto Deusdedith Ribeiro Júnior, advogado do Direito do Consumidor, explica que a qualidade do produto doado, seja ele osso ou outro alimento, é responsabilidade do estabelecimento e tem previsão no Código da Defesa do Consumidor. Por esse motivo, ainda segundo o advogado, que muitos restaurantes e mercados optam pelo descarte, ao invés da doação.

“É muito difícil ver os estabelecimentos doarem os produtos que estão vencendo ou que sobram, porque existe a responsabilidade do estabelecimento. Se um estabelecimento te entregar um produto de graça e ele te fizer mal, não estiver próprio para consumo, o estabelecimento é responsável”, explica.

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