Café de altitude em Minas Gerais ganha selo de origem e impulsiona mercado especial

MANHUAÇU (MG) – A paisagem bucólica de montanhas com delicadas pinceladas de vermelho e amarelo, cores que representam variedades de grãos de café, é o clichê que melhor ilustra a região das Matas de Minas, no leste do Estado. Ao percorrer as estradas curvilíneas que levam aos 63 municípios da região, o cenário se estende por 278.811 mil hectares.

As lavouras de café de altitude (chegam a 1.200 metros) representam a segunda maior região produtora da variedade arábica em Minas Gerais: foram 7,5 milhões de sacas em 2018 (23% da produção do Estado). Mais do que commodity, nos últimos seis anos, com a criação de selos e marcas coletivas, a região busca se posicionar no País com a produção de cafés especiais.

A região conta com 36 mil produtores. Cerca de 80% deles são pequenos, com lavouras que não ultrapassam 20 hectares. Como o café é de altitude, não há como mecanizar a colheita. Essa composição, que exalta a vocação para a agricultura familiar, também mostra a dimensão do desafio de conversão para novas práticas de cultivo e pós-colheita, responsáveis por transformar o grão de commodity em especial.

 “Para o pequeno produtor, principalmente o de montanha, a saída viável para sobreviver da lavoura é produzir café de qualidade. No commodity, o valor de venda está muito baixo”, diz Vanusia Nogueira, diretora da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). A entidade estima maior retenção para consumo interno no País em 2019, com 1,2 milhão de saca.

Para corroborar qualidade

Para fomentar o empreendedorismo na região, em 2013 foi fundado o Conselho das Entidades do Café das Matas de Minas, que reúne 14 entidades (entre cooperativas de crédito e órgãos de assistência ao produtor rural) e é o responsável pela criação do selo Matas de Minas. No ano passado, o conselho entrou com pedido de Indicação Geográfica no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) para o Matas de Minas, já liberado em caráter preliminar.

Na região, para receber o selo, o café deve atingir classificação mínima de 80 pontos de acordo com avaliação de um qgrader (especialista em classificação de cafés). Além de permitir a rastreabilidade do grão e chancelar a qualidade, o selo leva um QRCode, que mostra ao comprador a história do produtor, as características sensoriais do café, premiações em concursos e a pontuação.

Desde a implementação do selo, 150 produtores foram cadastrados para vender o café com a certificação e 500 produtores foram atendidos pelas equipes técnicas. O Conselho estima que 30% deles passaram a se dedicar a café especial após a iniciativa.

Em 2018, foram vendidas mil sacas de café verde (não torrado) selado. Para a venda de café já embalado, torrado e moído, foram confeccionados 13.900 selos. O Conselho ainda estima que 1,2 milhão de sacas de cafés especiais foram produzidas na região das Matas de Minas, cerca de 20% de toda a produção da região.

O diretor da organização, Ari de Oliveira Filho, diz que o trabalho de convencimento com os produtores foi o maior desafio nesses seis anos. “São gerações que cultivam o café do mesmo jeito há décadas.” O diretor ainda diz que a maior mudança tem de ocorrer da “porteira para fora”. “Os cafeicultores estão abertos para melhorar as práticas no pós-colheita, com maior cuidado na seleção e na secagem. Mas ainda é difícil pensar na comercialização.”

A analista do Sebrae-MG para a microrregião de Manhuaçu Ereni Constantino diz que a expectativa é aumentar em 30% a comercialização de café selado em 2019. “Também queremos aumentar a qualidade, fazendo com que os produtores participem de prêmios e concursos para ganhar certificações e aumentar a visibilidade da região.”

FONTE: Reportagem de Letícia Ginak, O Estado de S.Paulo

Fotos Felipe Rau/Estadão

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