O ‘Homem da Banana’ que virou presidente, dissolveu o Parlamento e tentou mudar a Constituição: saiba quem foi Jovenel Moise, o líder assassinado do Haiti.

Eleito com 600 mil votos em um país de 11 milhões de pessoas, Moise enfrentou protestos da oposição que dizia que seu mandato deveria ter terminado em fevereiro deste ano. Ele queria um ano a mais no poder e uma nova Constituição.

Jovenel Moise, de 53 anos, o presidente do Haiti que foi assassinado nesta quarta-feira (7), nunca teve um apoio grande de seu povo: ele foi eleito com menos de 600 mil votos nas eleições de 2016, em um país que tem 11 milhões de pessoas.

Jovenel Moise durante uma entrevista em agosto de 2019 — Foto: Dieu Nalio Chery/Reuters

Jovenel Moise durante uma entrevista em agosto de 2019 — Foto: Dieu Nalio Chery/Reuters

Moise, que era conhecido como Homem da Banana (ele exportava a fruta) teve mais votos que 26 outros candidatos em um processo eleitoral de quase dois anos que foi marcado por acusações de fraude, desastres naturais e uma baixa presença de eleitores. Ele teve 55% dos votos no segundo turno.

Presidente do Haiti, Jovenel Moíse, é assassinado a tiros durante a noite

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Ele era pouco conhecido antes das eleições, mas conseguiu ser o vitorioso com o apoio do ex-presidente Michel Martelly.

Imagem de 2018 mostra o presidente do Haiti, Jovenel Moise, em uma cerimônia no país — Foto: Dieu Nalio Chery/AP

Imagem de 2018 mostra o presidente do Haiti, Jovenel Moise, em uma cerimônia no país — Foto: Dieu Nalio Chery/AP

Ele assumiu afirmando que suas prioridades eram atacar a corrupção, a mudança climática e modernizar a agricultura do país. Para ele, essa era uma forma de garantir mais empregos.

No entanto, ele teve dificuldades políticas. Em janeiro de 2020, Moise dissolveu o Parlamento e governou o Haiti por decreto desde então.

O prazo do mandato

Em fevereiro deste ano, houve protestos que pediam para que ele terminasse seu mandato.

Imagem de dezembro de 2020 de um protesto em Porto Príncipe, no Haiti — Foto: Dieu Nalio Chery/AP

Imagem de dezembro de 2020 de um protesto em Porto Príncipe, no Haiti — Foto: Dieu Nalio Chery/AP

A oposição afirmava que seu mandato já tinha terminado no começo de 2021, mas ele se recusava a deixar a presidência, dizendo que um governo interino ocupou o primeiro ano de seu período. “Não sou um ditador, meu mandato termina no dia 7 de fevereiro de 2022”, ele afirmou.

O governo de Moise prendeu 23 pessoas que, segundo ele, haviam tentado dar um golpe de Estado e colocar um ministro da Suprema Corte do país na presidência.

No dia seguinte, a oposição chegou a declarar um outro ministro da Suprema Corte do país o presidente interino.

Moise não só se manteve no cargo como ainda tentou mudar a Constituição para que a presidência tivesse mais poder.
Governo do Haiti diz ter sofrido tentativa de golpe

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A oposição também acusava Moise de tentar aumentar seu poder, inclusive com um decreto que limitava os poderes de um tribunal que fiscaliza contratos governamentais e outro que criava uma agência de inteligência que respondia apenas ao presidente.

Para evitar as críticas, Moise havia prometido que não iria concorrer nas próximas eleições.

No entanto, ele argumentava que para deixar a presidência precisaria acumular poder suficiente para enfrentar uma oligarquia que, de acordo com ele, havia paralisado o Haiti para lucrar de um governo que era muito fraco para conseguir regular a economia ou mesmo cobrar impostos.

Para os críticos, Moise tinha um discurso populista contra essa elite que, segundo ele, havia conseguido capturar o Estado para garantir seus interesses.

Jovenel Moise em 2018, durante a Assembleia Geral da ONU — Foto: Richard Drew/AP

Jovenel Moise em 2018, durante a Assembleia Geral da ONU — Foto: Richard Drew/AP

Ele também foi criticado por centralizar o poder. Por exemplo, a primeira proposta de Constituição que ele apresentou não tinha uma versão em língua crioula, só em francês. Além disso, nenhuma organização da sociedade civil foi convidada para participar da elaboração.

No texto da proposta de Constituição, ele ainda incluiu a possibilidade de reeleição —o que era proibido desde o fim da ditadura de Duvalier, em 1986.

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